terça-feira, 14 de agosto de 2007

Aventura e salários levam militares a Cabul

Fossem civis e a bagagem era estranhamente escassa para quem se prepara para estar seis meses fora de casa e num país tão longínquo como o Afeganistão. Mas os 50 militares portugueses que ontem partiram de Figo Maduro sabem que vão encontrar uma missão difícil e com riscos e que não precisam de levar roupas civis, pois os poucos momentos de lazer serão passados no interior do aquartelamento.


O primeiro grupo vai demorar dois dias no ruidoso e desconfortável C-130 que os levará até Cabul, capital afegã de onde chegam notícias quase diárias de combates entre os rebeldes talibãs e as forças de segurança. O tenente-coronel pára-quedista David Correia, que vai comandar os militares que nos próximos seis meses cumprem missão no Afeganistão, explicou que os primeiros 15 dias serão de "integração com o contingente que está lá".
A rendição está prevista ainda para Agosto e o primeiro grupo que ontem partiu permitirá que "todo o conteúdo, contactos e toda a experiência acumulada da força que está lá nos seja transmitida para que possamos, aquando da chegada do grosso do grupo, a 28 deste mês, dar uma continuidade a nível das tarefas sem haver uma quebra significativa", refere o comandante.
Os militares portugueses - um total de 150 do Exército e sete da Força Aérea - vão integrar a Quick Reaction Force da ISAF. Trata-se de uma missão integrada na Força de Reacção Rápida da Força Internacional de Assistência e Segurança no Afeganistão. Portugal assegura ainda cinco militares no Estado-Maior do Quartel-General da ISAF.

Todos estes militares portugueses partem voluntários para esta missão e os rostos sorridentes no adeus aos familiares e amigos afastam-nos decididamente da imagem do soldado "obrigado" a ir combater.
As motivações individuais de cada um serão sempre difíceis de avaliar, mas David Correia pressente nos seus homens um gosto pela "aventura", em seu entender explicável para quem "tem um treino duro mas muito eficaz que os prepara para este tipo de missões". Outra das razões para não faltarem voluntários prende-se como o facto de os militares conseguirem ver o seu ordenado multiplicado por quatro ou cinco vezes o seu valor durante o tempo da missão, o que para um soldado que ganha cerca de 700 euros é particularmente significativo.
No discurso de despedida, o general Hernandez Jerónimo não escondeu os perigos e lembrou que "nos momentos difíceis é preciso costas com costas lutar". Desejou felicidades e boa sorte. E numa voz militar que soa sempre a ordem foi claro: "Quero voltar a cumprimentar-vos daqui a seis meses."
Texto: Eva Cabral In: Dn Online

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