segunda-feira, 5 de maio de 2008

Polícias treinam guerra urbana

O perigo espreita em cada esquina. Uma pequena distracção ou um movimento em falso pode significar a morte. Quando os elementos do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) entram numa favela sabem que a coordenação dos elementos da equipa tem de ser perfeita para cumprir as missões e, mais importante, sobreviverem. Polícias de todo o Mundo estão cada vez mais atentas à experiência daquela força brasileira em operações realizadas em bairros de alto risco e Portugal não é excepção. Depois da deslocação do GOE ao Brasil, para treinos com o BOPE, a empresa CATI promoveu um curso no nosso país, ministrado por um oficial do batalhão.
Omajor Fábio Sousa, do BOPE do Rio de Janeiro, esteve durante quatro dias a treinar técnicas de progressão em zonas de alto risco com 22 elementos da PSP, GNR, SEF e GISP (dos Serviços Prisionais), e ainda um polícia da Roménia e outro da Croácia. O curso iniciou-se na quinta-feira e terminou ontem. O quartel desactivado da 7.ª Bateria de Artilharia de Costa, da serra da Arrábida, Setúbal, foi o palco da formação.
"Este curso tem como principal objectivo habilitar o agente a entrar numa área de risco, fazendo a protecção dos colegas, cobrindo os ângulos de ameaça de tiro e com atenção a possíveis agressores. Isto cumprindo o objectivo, que é prender o criminoso", disse ao CM o major Fábio Sousa.
O curso iniciou-se com uma preparação teórica e visionamento de filmes com operações do BOPE nas favelas.
Nos restantes dias, os 24 participantes foram submetidos a diversas situações com exercícios tácticos, alguns dos quais desenvolvidos em cenários a simular favelas.
"Foi um sucesso absoluto", disse ontem ao CM Fernando Fernandes, director operacional do CATIeurope, que promoveu o curso. "Por parte dos alunos superou todas as expectativas e para o instrutor também foi bastante positivo", acrescentou.
Fundada em Agosto do ano passado, o CATIeurope nasceu a partir da CATI (Centro Avançado de Técnicas de Imobilização), criada em 1999 no Brasil.
Segundo Fernando Fernandes, a CATIeurope formou já mais de 300 elementos de forças como a PSP, a GNR, a ASAE e também alguns militares e bombeiros.
A empresa arrancou em Portugal com um curso no Verão do ano passado, também na serra da Arrábida, ministrado por Patrick O’Quinn, comandante do SWAT de Beaumont, EUA. Na altura participaram elementos da ASAE, GNR, PSP e PJ.
Para este ano a CATI tem previstas mais acções de formação, nomeadamente um curso com o GISP e guardas prisionais, ministrado por um elemento do GPOE, grupo anti-motim nas cadeias brasileiras, em Junho, e outro de protecção a individualidades, em Julho.
"BOPE NÃO ENTRA NAS FAVELAS PARA MATAR"
"Todos os dias o BOPE faz operações nas favelas. Os soldados estão constantemente a aplicar os conhecimentos, sob pena de voltarem num caixão. Esta é a nossa realidade", salientou o major Fábio Sousa.
Aquele oficial nega a ideia largamente difundida de que a força a que pertence utiliza a violência de forma indiscriminada e desproporcionada.
"Quando o BOPE entra numa área de alto risco não tem o objectivo de matar. Vai para prender os marginais e libertar a população subjugada pelo traficante. Mas se ele reagir e atirar em mim eu tenho o direito de responder", disse.
"Queremos quebrar essa ideia pré-concebida de que o BOPE entra a matar", salientou.
Fábio Sousa adiantou que a população das favelas é quase sempre subjugada e escravizada pelos traficantes de droga. "Eles fazem barricadas na via, cortam a ligação de luz e gás às casas, e nem permitem a recolha de lixo", acrescentou.
Por seu lado, Fernando Fernandes, director operacional do CATI Europa, elogiou os elementos do BOPE. "Temos de os respeitar porque actuam quase sempre de boina (sem qualquer protecção na cabeça) e muitas vezes sem colete à prova de bala. São pessoas muito corajosas."
MAJOR FÁBIO FAZ FORMAÇÃO DO BATALHÃO
O major Fábio Sousa tem 38 anos. Com uma carreira de vinte anos nas forças policiais brasileiras, ingressou no Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro (BOPE/RJ) em 1996. Já dirigiu este mesmo curso uma dezena de vezes ao serviço do CATI, mas foi o primeiro que leccionou no nosso país. Como elemento do BOPE é responsável pela formação dos soldados do Batalhão. Esclarece que o curso que veio ministrar a Portugal consiste numa disciplina da formação dos homens BOPE (que decorre ao longo de três meses e meio), adaptada à situação particular de progressão em áreas de risco. Sobre os seus formandos portugueses disse estarem muito bem treinados. "Estão a cem por cento."
CATI
TODO O MUNDO
Fundado em 1999, o CATI promove já cursos em praticamente todo o Mundo. OCATIeurope, com sede em Lisboa, está a promover cursos em países de Leste e para os PALOP.
CUSTOS DO CURSO
"Só podemos fazer cursos com um máximo de 25 elementos. Os custos por pessoa variam entre os 200 e os 250 euros", disse Fernando Fernandes. "Para nós o mais importante é a satisfação do pessoal."
SÓ PARA AGENTES
O CATI só treina agentes da autoridade e militares no activo. "Não vamos estar a municiar o inimigo. Não queremos passar este conhecimento a pessoas sem idoneidade", disse o major Fábio Sousa.
VÁRIAS ACÇÕES
OCATI já formou mais de 80 mil agentes policiais em todo o Mundo, nomeadamente à guarda pessoal do Papa e à segurança Interna da NASA (de técnicas de imobilização e algemagem).
NOTAS
GISP COM BOA EQUIPA
Elementos que participaram no curso elogiaram os dois homens do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP), os quais revelaram uma boa coordenação.
FORMANDOS TREINAM TIRO SEM PERIGO
No curso foram utilizadas réplicas de armas usadas normalmente pela polícia e pistolas de paint-ball, as quais permitem treinar tiro sem perigo.
OBJECTIVOS DO CURSO
Ensinar as técnicas de progressão em situações tácticas, transposição de obstáculos e utilização de protecção em áreas urbana, é uma das metas do curso.
SEGURANÇA PRIMEIRO
A progressão em segurança de uma equipa numa zona perigosa é a principal preocupação. Muitos agentes, mesmo os mais experientes, expõem-se de mais.
TESTAR SITUAÇÕES
Oquartel da Arrábida, cedido pelo Exército, foi palco de diversos cenários em que os agentes portugueses treinaram as técnicas de progressão.
PROTEGER COLEGAS
Proteger os companheiros em áreas de risco é a principal preocupação nas diversas operações realizadas.
AGENTE FERIDO
Numa das situações treinadas, um dos elementos é ferido a tiro durante uma patrulha. A missão dos formandos foi a de retirar o camarada ferido do local em segurança.
DETER ATACANTES
Numa outra situação, os homens entram num bairro e são atacados. O objectivo da missão era avançar no terreno, com muitos obstáculos, e deter os indivíduos que os atacaram.
Antunes de Oliveira in Correio da Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

Pena é ter na liderança um segurança da noite.... Onde está o orgulho da policia???