quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Pioneiro da aviação portuguesa é homenageado sábado

O Red Bull Air Race, festival aéreo que é considerado a Fórmula 1 do ar e que se realiza sábado, sobre o rio Douro, no Porto, vai servir também para recordar um dos pioneiros da aviação portuguesa: o comandante Sarmento de Beires.


A homenagem, uma iniciativa da família e da Câmara do Porto, inclui a inauguração de uma exposição biobibliográfica, a inaugurar às 16:00 de sábado, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, onde decorrerá também um colóquio intitulado «Sarmento de Beires nos 80 anos da 1/a travessia aérea nocturna do Atlântico Sul 1927-2007».
Participam como oradores o comandante José Alberto Sousa Monteiro, professor Armando Malheiro da Silva e José Pacheco Pereira.
José Manuel Sarmento de Beires foi um dos homens que planeou os raids aéreos portugueses, de 1924 a Macau e 1927 ao Brasil, que foram considerados como alguns dos feitos aeronáuticos mais importantes do século XX.
Nascido em Lisboa, a 04 de Setembro de 1893, foi aluno do Colégio Militar e terminou o curso de Engenharia Militar da Escola de Guerra em 1916 no mesmo ano em que se apresentou na Escola de Aeronáutica Militar em Vila Nova da Rainha.
Aí, em 1917, recebeu as asas de piloto militar naquele que foi o primeiro curso de pilotagem militar efectuado em Portugal.
Depois da I Guerra Mundial a aviação e os aviadores conquistaram grande prestígio e as grandes potências iniciaram um vasto programa de voos intercontinentais e tentativas de ligação entre as Américas e a Europa.
Portugal entrou também nesta corrida e depois do voo de Cabral e Coutinho em 1922 ao Atlântico Sul, Sarmento de Beires em 07 de Abril de 1924 - no mesmo dia em que foi promovido por distinção a major - partiu de Vila Nova de Mil Fontes com Brito Pais, para o voo a Macau a bordo do Pátria, um Breguet Br16, especialmente transformado nas oficinas da Amadora para a longa viagem.
A 17 de Março de 1927, acompanhado por Jorge Castilho e Manuel Gouveia, Sarmento de Beires chegou a Fernando de Noronha no Brasil.
Este percurso constituiu um feito notável onde a utilização do sextante, patenteado por Coutinho, sofreu uma outra transformação feita por Jorge Castilho, nomeadamente a iluminação da bolha de nível o que permitiu a sua utilização nocturna.


De Portugal chegou apenas um telegrama de felicitações a Gago Coutinho. A instabilidade política que se vivia na época relegou a viagem para um lugar secundário.
No dia 27 de Junho de 1927, os aviadores desembarcaram em Lisboa, a bordo do navio Hilbord, numa altura em que se comemorava o primeiro aniversário do golpe militar 28 de Maio que instaurou a ditadura, historicamente conhecida como Estado Novo.
Em carta de 23 de Fevereiro de 1928, a Liga Internacional dos Aviadores enviou a Sarmento de Beires o diploma que considerou o voo atlântico de 1927 um dos feitos aeronáuticos mais importantes do ano.
Em 1930, Beires foi iniciado na Loja Paz da Maçonaria com o nome de Bartolomeu Dias.
Na sequência da participação na tentativa de golpe militar contra o Estado Novo, em Julho de 1928, para restaurar a Democracia, Beires é demitido da Aeronáutica e abandona Portugal.
Na clandestinidade continua a manter intensa actividade politica de oposição ao regime Salazarista.
Em 1931 regressou clandestinamente a Portugal onde fez parte do grupo organizador da tentativa de golpe de Agosto ocorrida nesse ano.
A partir de Alverca, unidade que então ocupou com o apoio dos sargentos e das praças, faz sair quatro aviões que bombardearam locais militares do regime em Lisboa e Almada.
Este golpe militar foi o mais importante do período conhecido por Reviralho, um série de tentativas de rebelião militar que se estenderam de 1926 até 1940.
Em 1933 Beires foi preso em Lisboa pela polícia politica e em 1934 foi condenado a sete anos de desterro e perda de todos os direitos cívicos durante 10 anos.
Depois de passagens por Espanha, França, Macau e Moçambique fixa-se no Brasil onde manteve uma intensa actividade de jornalista, escritor, tradutor e cronista de guerra em várias estações de rádio durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1951 foi amnistiado e reintegrado na reserva no posto de major passando à situação de reforma em Setembro de 1963.
Em 14 de Agosto de 1972 foi promovido por distinção ao posto de coronel.
Foi condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, Ordem Militar de Cristo, Ordem Militar de Santiago da Espada, comendador da Ordem do Império, Legião de Honra francesa e Ordem do Rei do Camboja (França).
O homem que um dia escreveu, além de diversas obras literárias, «A aeronáutica militar tem uma missão histórica a cumprir», morreu em Vila Nova de Gaia a 08 de Junho de 1974.
In: Diário Digital/Lusa

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