segunda-feira, 2 de julho de 2007

Só há dois blindados em reserva para dar apoio ao Afeganistão



Escrito por Carlos Varela

A força portuguesa que está a combater no Afeganistão está com a capacidade blindada praticamente esgotada, na sequência dos ataques dos talibãs, uma vez que em Portugal há apenas duas viaturas em reserva, soube o JN junto de fontes militares. Mesmo estes dois veículos estão a ser aplicados na instrução, o que significa que fazê-los avançar para o Afeganistão, no caso de mais baixas em combate, pode pôr em causa a preparação da força que parte em Setembro. É mais uma das lacunas detectadas naquele teatro de operações, a par da desadequada protecção individual, agora em fase de reparação com o envio de novo material, tal como o JN já noticiou.

Uma reserva mínima, apontaram ao JN, seria de pelo menos dez viaturas do tipo em causa, a HUMMVEE, para garantir a instrução e a sustentação da força que a milhares de quilómetros de distância enfrenta a situação operacional mais dura e arriscada desde que Portugal deixou África em 1974. O Estado-Maior do Exército não quis comentar, alegando não o fazer relativamente a "questões operacionais", remetendo qualquer resposta para o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA). O JN sabe, no entanto, que a falta de HUMMVEE está a preocupar o Exército, que já fez chegar ao Ministério da Defesa a necessidade de comprar mais daquelas viaturas. O EMGFA considera que "no teatro de operações a situação foi restabelecida com o envio de viaturas para substituir as danificadas", mas não comenta o facto de haver apenas mais dois veículos em reserva. O Ministério da Defesa, aponta que "há um processo de aquisição a decorrer para blindados ligeiros", mas não indica datas para a sua conclusão.

Em menos de dois anos, a missão dos 150 portugueses no Afeganistão já causou um morto, um ferido grave e quatro feridos ligeiros, além da destruição total de uma viatura e danos graves em outras três, que levaram à sua imobilização, sempre por acções de combate.

Em causa, por razões financeiras, está a política de aquisição de armas e viaturas, que apenas tem em conta as necessidades imediatas da missão, sem levar em conta a possibilidade da ocorrência de baixas e a necessidade de manter uma reserva credível, apontaram as mesmas fontes.

Há mais um tipo de viatura blindada de rodas a ser usada no Afeganistão, o Panhard M-11, mas trata-se de um veículo especializado em reconhecimento e escoltas, que não permite o transporte de infantaria.

A viatura mais usada pela força portuguesa no Afeganistão é, assim, o HUMMVEE, um veículo de quatro rodas, que pode receber "kits" de blindagem, como veio a ser a opção portuguesa, e que além do armamento de bordo - metralhadoras e lança-granadas - pode transportar cinco soldados de infantaria.

No entanto, em todo o Exército e não obstante as múltiplas missões no exterior, há apenas 24 viaturas deste tipo e vinte foram empenhadas no Afeganistão. O número de "kits" de blindagem em reserva é de natureza confidencial, mas o seu número não deverá ser superior a quatro ou cinco.

Uma vez que o último ataque, no início de Junho, danificou gravemente dois dos três blindados, o Exército foi obrigado a enviar dois veículos para substituir os mais atingidos.

Feitas as contas, apenas ficaram dois HUMMVEE em Portugal, um número demasiado reduzido para poder ser considerado uma reserva credível, tanto mais que os dois sobrantes estão em permanência atribuídos à instrução de condutores da próxima leva de forças destinada ao Afeganistão.

Duas das viaturas danificadas nos combates de Junho já chegaram a Portugal e estão nas Oficinas Gerais de Material do Exército, mas ainda não se sabe se têm reparação, ou se o seu estado o justifica. A terceira viatura continua no Afeganistão, para reparação local.



Panhard M-11

É uma viatura moderna e está em serviço no Afeganistão mas é mais concebida para as missões de reconhecimento e escolta, típicas da cavalaria, e o modelo em uso em Portugal não pode comportar soldados de infantaria.




Os novos Pandur

Embora mais pesados que o HUMMVEE seriam sempre uma alternativa, mas os primeiros só serão entregues entre Setembro e Dezembro. Quanto aos M-113, têm protecção razoável, mas têm lagartas em vez de rodas.



Pedir a Espanha

É talvez uma alternativa e foi assim, aliás, que Portugal conseguiu cumprir os compromissos com a OTAN para estar no Afeganistão dentro da data aprazada até que a fábrica tivesse tempo para aplicar blindagem nos HUMMVEE. O "El País" lembrou esse empréstimo no ano passado a propósito da discussão do comando no Líbano.

In: Jornal de noticias

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