sexta-feira, 14 de março de 2008

A Associação de Comandos

I – SÍNTESE HISTÓRICA
Quando há cerca de quarenta anos eclodiram os movimentos independentistas no Ultramar Português, as Forças Armadas sentiram a necessidade da criação de um corpo especializado para fazer face às técnicas de guerrilha utilizadas pelos mesmos.
Nos finais da década de 50, na Argélia, a experiência do exército francês demonstrou a necessidade de uma remodelação de métodos de instrução adequados como resposta à guerra de guerrilha, tomando em conta as características do clima e do terreno.
Um intercâmbio entre oficiais portugueses e oficiais franceses deu origem à criação do primeiro Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego, onde começaram a ser formadas Companhias de Caçadores Especiais, as primeiras forças especiais do Exército Português. A evolução da luta armada em Angola veio exigir novos métodos, constituindo-se em Nóqui o primeiro grupo especial verdadeiramente vocacionado para a luta anti-guerrilha.
Mais tarde em Zemba é instalado o Centro de Instrução N°. 21, que recorria à utilização permanente de meios reais, do contacto directo e constante com o meio natural e com o próprio inimigo. De lá saíram em Dezembro de 1962 os seis primeiros grupos de tropas especiais, que estão na origem dos Comandos.
O mesmo espírito de corpo, de sacrifício e de dedicação, solenemente consagrados no Código Comando, a par de outros valores patrióticos e nacionais, conferem a todos os Comandos uma forma diferente de proceder e de estar no mundo, ao mesmo tempo que em dignidade e força interna, gritam bem alto "MAMA SUME" (Aqui Estamos).
Cumprido o serviço militar, ao Comando é-lhe atribuída, formal e administrativamente a passagem à disponibilidade. Mas tal só acontece na sua vida militar, pois nunca deixa de ser Comando, nem de pertencer à Família Comando.
Este estigma leva os primeiros Comandos, em 1965, ao passarem à disponibilidade, a pensar na criação de uma Associação, que possibilitasse o transbordo para a nova vida civil do forte Espírito de corpo, vivido na instrução e em combate.
No clima político de então, adverso ao associativismo, não foi possível concretizar a ideia da criação de uma Associação. Tal não obstou a que se passassem, desde logo, a organizar convívios e reuniões frequentes.
Com o 25 de Abril de 1974; ressurge a ideia da criação da Associação de Comandos. Com a entrada em vigor do Decreto-Lei Nº. 574/74 é consagrado o direito de formação de Associações Cívicas.
E, assim, em 14 de Novembro de 1975 é celebrada a escritura pública que dá vida à Associação de Comandos, sendo publicada no Diário do Governo N°. 271 - III Série de 22 de Novembro do mesmo ano.

II - FINALIDADES DA ASSOCIAÇÃO
Em Dezembro de 2001 a Associação de Comandos contava já com 4.771 membros, dos quais 688 não Comandos.
A Associação de Comandos foi criada tendo por fins essenciais:
a) Manter e desenvolver o Espírito de Corpo, e os valores morais consubstanciados no Código Comando;
b) Manter viva e honrar a Memória dos Comandos mortos, nomeadamente daqueles que tombaram no Campo da Honra;
c) Colaborar com as Unidades Comando, em termos Patrióticos, pugnando pêlos altos desígnios expressos pela Vontade Nacional;
d) Ajudar os sócios a obter emprego e promover a elevação das qualidades cívicas e culturais dos seus membros;
e) Ajudar os sócios ou suas viúvas e filhos que se encontrem em dificuldades;
f) Localizar casos de necessidade entre os membros da Associação ou seus familiares directos e promover a sua solução;
g) Visitar os doentes e promover amparo aos membros necessitados;
h) Promover a prática do desporto nas várias modalidades oficialmente reconhecidas, constituindo grupos ou equipas, em vários locais do Território Nacional, com vocação para a participação em provas oficiais, como forma de aglutinação e promoção física e moral dos seus associados;
i) Desenvolver os laços de amizade e camaradagem com todos aqueles que estiveram ligados aos "Comandos";
j) Realizar no mínimo uma reunião anual de confraternização e organizar outras reuniões que sejam necessárias;
k) Promover a solidariedade social.

III - ACTIVIDADES DA ASSOCIAÇÃO
1 - Dando prossecução ao ponto expresso na alínea c) das suas finalidades, a Associação de Comandos, em colaboração com o Estado Maior do Exército, procedeu à mobilização das 2 Companhias de Convocados que permitiram a intervenção do Regimento de Comandos no 25 de Novembro de 1975, mantendo estreita cooperação com a sua Unidade e levando por diante todas as acções que lhe foram cometidas, antes e depois do 25 de Novembro.
A Associação de Comandos manteve, sempre, a maior isenção político-partidária, obedecendo apenas aos interesses claramente expressos pelo Povo Português, e abstendo-se de intervir em assuntos de carácter interno das Forças Armadas.

2 – Sector Social
- Desde 1975 a Associação de Comandos concedeu alojamento e alimentação a centenas de Comandos "retomados"; Desde 1985 a Associação de Comandos colocou no mercado de trabalho cerca de 980 sócios;
- Promove visitas e concede apoios sociais a sócios detidos e hospitalizados, bem como a viúvas;
- Desde 1980 e com o apoio do Governo, a Associação de Comandos fez vir para Portugal, cerca de 80 Comandos do Batalhão da Guiné, exilados no Senegal, tendo-os apoiado na legalização e obtenção da nacionalidade portuguesa, tendo dado apoio médico, alojamento, roupa e colocação no mercado de trabalho;
- Muitos mais Comandos da Guiné vieram, posteriormente, a apresentar-se na Associação de Comandos, vindo a receber idêntico apoio;
- Em 1977 foi criado o Centro de Férias do Algarve, nas instalações da Delegação Regional de Faro da Associação de Comandos, a fim de servir os sócios e familiares de todo o País, a preços acessíveis;
- A Associação de Comandos teve papel activo na constituição da Associação de Comandos de Angola;
- Em 1986, a Associação de Comandos criou a Cooperativa de Construção e Habitação "Aqui Estamos", C.R.L., que em 1992 distribuiu os primeiros 84 fogos construídos em 2 edifícios, em Cheias - Lisboa, tendo posteriormente construído um condomínio fechado em Setúbal, com 50 fogos, destinados a sócios, familiares e não-sócios que quiseram aderir.
- Em 2000 integra-se em duas Uniões Cooperativas, para construir 336 fogos, dos quais 50 destinam-se aos Sócios da Cooperativa "Aqui Estamos".
- Em 2001 promove a construção de 30 apartamentos no Algarve (Cabanas - Tavira).
- A Delegação Regional de Aveiro criou também uma Cooperativa de Construção e Habitação para construir mais fogos em Oliveira de Azeméis, parte dos quais destinados a abrigar famílias pobres vivendo em barracas, conforme acordo feito com a respectiva Câmara Municipal;

3 - Sector Cultural
- Desde 1986 a Associação de Comandos organizou várias palestras subordinadas a temas sobre Defesa Nacional e os Comandos, tendo contado já, entre outros, com o contributo do Gen. Soares Carneiro, Embaixador Franco Nogueira, Prof. Marques Guedes, Prof. Borges de Macedo, Gen. Rocha Vieira, Cmdt. Virgílio de Carvalho;
- Em 1983, criou-se no Castelo do Queijo - Porto, o Museu Comando, aberto ao público;
- Em 1984, foi fundado o Grupo Coral "Mama Sume", composto por 4 naipes, num total de 50 elementos que tem actuado no Continente, Madeira, Macau e França;
Realizou cursos de computadores para sócios e familiares;
- Em Outubro de 1978, promoveu aulas de preparação para exames do 1°. Ciclo, para sócios com interesse em reiniciar os estudos;
- Em 1985 criou as Edições "Mama Sume" que vieram a publicar o "Vocabulário Heráldico".
- Nos dias 15, 21 e 23 de Novembro de 1995, a Associação promoveu um painel de palestras sobre os acontecimentos militares do 25 de Novembro de 1975, realizado no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Lisboa intervindo, entre outros, o Prof. Doutor António Marques Bessa, Dr. José Manuel Barroso, General Tomé Pinto, General Ramalho Eanes, Dr. Jaime Nogueira Pinto, Brigadeiro Manuel Monge, Dr. Proença de Carvalho, Dr. António Reis, Cáceres Monteiro, Cor. Ribeiro Soares, Prof. Doutor Artur Anselmo e Dr. Nuno Rogeiro.
- Em Novembro de 2000, altura sobre a qual decorriam os 25 anos daquela efeméride, a Associação de Comandos fez-se representar nas Comissões de Honra e Executiva nas palestras promovidas pela Câmara Municipal de Oeiras e inserido no tema "Os Militares, as Artes e as Letras - 25 anos do 25 de Novembro".

4 - Sector Desportivo
- Em 1978 e em 1985 a Associação de Comandos realizou cursos de Paraquedismo Civil;
- De 1986 a 1990 foram constituídas equipas de Andebol de Sete e de Triatio. A primeira, iniciou-se na 3a. Divisão Distrital, tendo subido até à 3a. Divisão Nacional. A segunda, foi individual e colectivamente Campeã Nacional de Biatio e Triatio curto, médio e longo, durante três anos consecutivos. A falta de patrocínios ditou o fim de ambas as equipas;
- De 1988 a 1992 a Associação de Comandos apoiou o Campeão Nacional de Pentatlo Moderno, Manuel Barroso, que esteve presente nas Olimpíadas de 1988 e 1992;
- Em 1985, a Associação de Comandos foi parte integrante do grupo que implantou em Portugal a modalidade de Corrida e Orientação;
- Desde 1991, a Associação de Comandos implantou a modalidade de Parapente, sendo percursora da Associação Nacional de Parapente e da Federação Portuguesa de Voo Livre;
- A Associação de Comandos tem uma escola de formação de pilotos, em Alçaria Ruiva - Mértola e, anualmente, organiza provas pontuáveis para o ranking nacional assim como encontros internacionais de Parapente;
- A Associação de Comandos tem organizado diversos torneios de Futebol de Salão inter- Delegações Regionais;
- Em 1987, nas comemorações do 25°. Aniversário da criação dos Comandos a Associação de Comandos organizou uma Estafeta que congregou cerca de 300 elementos que, partindo de Guimarães e de Sagres, terminou no Regimento de Comandos da Amadora.


Conclusão
Se é inegável a importância que a actividade da Associação de Comandos tem tido para os seus associados, mais evidente é a relevância de que veio a revestir-se para a implementação da Democracia no País em 1975.
A actividade da Associação de Comandos tem igualmente vindo a reflectir-se, na Comunidade em geral, transmitindo sempre os valores nobres, com os quais se identificam a maioria dos Portugueses que dela tomam conhecimento, através das suas Delegações e Comissões Instaladoras, constituídas em:

Delegações:
- Lisboa - 07.02.1975
- Porto - 09.03.1976
- Faro - 30.07.1977
- Açores - 01.01.1978
- Viana do Castelo - 25.11.1979
- Madeira - 02.02.1980
- E.U.A. - 24.03.1980
- Viseu - 01.05.1980
- Oliveira de Azeméis - 04.06.1980
- Coimbra - 04.07.1984
- Setúbal - 29.11.1984
- Macau - 07.10.1985 (*)
- Pombal - 27.04.1986
- Chaves - 17.09.1988
- Mira - 30.12.1989
- Almada - 16.03.2005
- Santarém - 16.03.2005
- Évora -

Comissões Instaladoras:
- Aveiro - 05.01.2007
- Guimarães - 22.03.2005

(*) - Esta Delegação foi encerrada em 26 de Novembro de 1999, motivada pela passagem deste Território para a soberania da República da China.

- Em 16 de Dezembro de 1993, organizou uma disciplinada e esmagadora presença de Comandos, no Regimento de Comandos - Amadora, na cerimónia de extinção da Unidade, decretada por decisão do Ministro da Defesa Nacional - Dr. Fernando Nogueira, inserida no plano de reestruturação do Exército que deu origem à fusão de Comandos e Paraquedistas, na criação do denominado Corpo de Tropas Aero-Transportadas - Brigada Aero-Transportada Independente (CTAT - BAI), que passou a estar aquartelado em Tancos.
A Associação de Comandos tomou-se, assim, na guardiã do Espírito Comando. Porém, não deixou de pugnar tenazmente pela reactivação da Especialidade, luta que viu coroada de êxito através da Directiva de S. Ex^ o Chefe do Estado Maior do Exército para o ano de 2002, em que determinou a criação de um Batalhão de Comandos, composto por 2 Companhias, reiniciando-se o primeiro curso em Setembro do corrente ano. Em 24 de Novembro de 2000, após vários e porfiados esforços junto do Governo, à Associação de Comandos, através do Despacho N°. 232/MDN/2000 do Exm°. Ministro da Defesa Nacional, foi-lhe cedido para sua Sede Nacional o PM 23/Oeiras - Bateria da Laje. Em 04 de Abril de 2002 foi assinado o competente Contrato Administrativo com a Direcção-Geral de Infraestruturas do Ministério da Defesa Nacional. E no seio da Associação de Comandos que se constitui o núcleo "pró- construção do Monumento Nacional ao Combatente do Ultramar". A sua acção levou o Estado Maior do Exército a atribuir à Liga dos Combatentes essa responsabilidade, sendo então formada uma Comissão presidida pelo Presidente da Liga e da qual a Associação de Comandos fez parte desde o primeiro momento.
A Associação de Comandos desenvolveu, igualmente, acção de relevo no movimento que originou o Convívio Nacional de Combatentes que se realiza no dia 10 de Junho e a colocação das placas com o nome de todos os Combatentes mortos em combate no Ultramar, nas paredes do Forte do Bom Sucesso.
In Associação de Comandos